quarta-feira, 29 de julho de 2009

DIA DA CIRURGIA – QUARTA-FEIRA – 15/7/09

Levantei as 04 horas da manhã e comecei a caminhar pelo apartamento. Estava tenso, pois ia para a faca em poucas horas. Tomei banho, me vesti e fomos para o hospital. Chegamos lá as 06:15 e como me haviam orientado anteriormente, o Setor de Internação somente abriu as 06:30. Logo, não adianta chegar mais cedo. Entreguei toda a documentação necessária para a internação:
  • Guia de internação da Unimed
  • Carteira da Unimed
  • Carteira de Identidade
  • CPF
  • Conta de Luz ou água atualizada

Após cerca de 15 minutos veio um enfermeiro e me levou para o setor cirúrgico. Tirei toda a roupa e vesti dois aventais. O primeiro aberto atrás e o segundo na frente. Vesti uma sapatilha fina de tecido. Acredito que aquela sapatinha extrafina e perigosamente lisa foi feita para evitar que o paciente queira fugir de última hora. De qualquer maneira, devia estar parecendo um verdadeiro E.T.

Caminhamos alguns metros por um corredor, me despedi da Silvia e fui para a sala de cirurgia. O movimento estava grande, gente entrando, saindo, passando e eu, o artista principal, nas mãos deles e de Deus. Era um tal de Sr. Machuca daqui, dali e de acolá. Minha primeira preocupação foi de que não caberia naquela mesa cirúrgica. Ela era muito estreita. Falaram para não me preocupar que não me deixariam cair. Pediram para tirar o primeiro avental. Como só havia mulheres no local, falei que estava com vergonha de tirar a roupa. Na realidade, vergonha, medo, de tudo um pouco. Passei para a mesa e me pediram os dois braços, os quais ficaram pousados em umas pranchas que saiam das laterais da mesa cirúrgica. Amarraram os meus pulsos e uma enfermeira começou a enfaixar cada um dos meus pés, da sola até o joelho. Perguntei o por que de me amarrarem todo e ela disse que era para evitar que as pernas inchassem com a anestesia. Naquela posição, parecia que seria crucificado na horizontal. A outra enfermeira começou a me etiquetar o peito. Perguntei se estavam me embalsamando para remeter pelos correios. Todos riram e eu mais ainda. Ria de nervoso. Pediram para que eu olhasse uma câmera que estava pendurada em um braço de metal em minha frente. Falaram que meu rosto seria filmado e em seguida toda a cirurgia. Logo entrou a anestesista, a Dr. Renata, loira, alta, esguia e bastante tranqüila. Começou a conversar comigo procurando me acalmar. Colocou uma máscara de oxigênio no meu rosto e falava que tudo correria bem, que eu iria dormir, não sentiria nada e que me encontraria após a cirurgia, quando acordasse na sala ao lado.

Acredito que era ao redor de 12 horas quando me dei conta que o espetáculo havia terminado. Estava tonto e com muita dor na boca do estômago. Imediatamente vieram me perguntar como estava me sentindo. Falei da dor e eles me aplicaram uma injeção, afirmando que em poucos minutos a dor passaria. Dormi, acordei, dormi novamente e a dor não parava. Perguntaram novamente e eu falei: “tá doendo demais aqui”. Coloquei a mão no peito, entre os mamilos, descendo uns cinco cm, onde fora feito uma das cinco incisões. Passado algum tempo veio um médico cirurgião e disse que teriam que ajustar a profundidade do dreno. Para não me preocupar que não doeria quase nada. Ele tirou os esparadrapos e ajustou a sonda. O quase nada se transformou em bastante, mas como era para uma boa causa, me tirar a dor, valeu. Em poucos minutos a dor começou a diminuir para uma intensidade aceitável. Dormia e acordava. Abria os olhos e me perguntavam se estava bem. Falei que estava com dificuldade de respirar. Acredito que aumentaram o oxigênio, mas não adiantou. Estava respirando que nem um cachorrinho. Inspirava pouco ar várias vezes, uma seguida da outra. De repente aparece uma japonesinha, era a fisioterapeuta. Chegou e falou: “Sr. Machuca, vamos lá?” “Vamos aonde?” perguntei. Ela começou a comandar o show: comigo, agora, respire fundo. Acredito que eu estava com medo de respirar mais profundamente, pois acreditava que os pontos internos poderiam arrebentar. Ela começou a flexionar o meu peito, pelas laterais, me pedindo para inspirar e expirar profundamente, conforme seus movimentos. Repetiu diversas vezes, mudou os exercícios respiratórios e uns 10 minutos após acabou a falta de ar por completo. Que coisa boa, não é. Venci o medo dos pontos arrebentarem.

Tudo bem, pouca dor, respirando normal, às 14:30 me levaram para o apartamento 208 da Ala de Nossa Senhora da Saúde. Já no corredor a Silvia (esposa 55) e o Paulo (filho 27) estavam me aguardando. Foi um verdadeiro rali. Nunca corri tanto em uma maca. Em milésimos de segundo estava no apartamento, quando me deparei com o primeiro desafio: passar da maca para a cama. Até aquele momento eu mal piscava os olhos e agora teria que movimentar 130 quilos e ainda, em direção lateral. A família estava completa no apartamento. A Jacira (vó 77), a Mônica (filha 18), o Nando (filho 21) o Paulo e a Silvia. Staff completo. Desenrolaram as faixas das pernas e me acomodaram na cama. Não foi fácil, pois em seguida fui acometido de ânsia, acredito que pelo esforço. Trouxeram-me um rim inoxidável e chamei o “hugo” umas quatro vezes, e nada, pois não tinha o que vomitar. Veio aquele suador danado seguido de uma bem-vinda calmaria.

Uma enfermeira se apresentou e começou a me medicar. Tomava injeções de remédios contra dor e ânsia. Possivelmente algum antibiótico junto. A garganta parecia que estava em chamas, a dor da cirurgia tomava conta do peito, a boca e os lábios estavam ressecados, mas nada que não fosse previsto.

De tempos em tempos a Silvia molhava os meus lábios com um algodão umedecido. Era um alívio instantâneo, mas os lábios continuavam ressequidos. A Vó pegou uma toalha de rosto embebida em água e aplicou em meu rosto e pescoço. Refrescou a boca e a garganta.

Sob o protesto de toda a família iniciei os meus primeiros movimentos na cama. Virar de um lado para o outro. Sou uma pessoa muito ativa e não conseguia ficar parado na mesma posição, na verdade ninguém consegue. Era difícil me movimentar, mas foi importante para o meu bem estar e autoconfiança naquele momento.

No final da tarde, veio uma outra fisioterapeuta para aplicar os mesmos exercícios. Ela perguntou se eu gostaria de ir ao banheiro. Foi minha salvação. De imediato aceitei a idéia, novamente sob protesto familiar, e fui ao banheiro, amparado por ela. Foi ótimo ficar em pé. Parece que eu voltava a ter o controle do meu corpo. Em seguida recomendou alguns exercícios que deveria fazer várias vezes ao dia e que, se me sentisse seguro, deveria sair e caminhar pelo corredor do hospital, que só me faria bem. Dito e feito, a noite lá estava eu caminhando pelo corredor, carregando o suporte com dois frascos de soro dependurados.

Importante salientar as dicas do Sr. Constâncio, um dos amigos que me visitaram, de que se deixasse o suporte de soro somente sob duas das quatro rodas, ele deslizaria com facilidade. Funcionou e deixei de caminhar carregando aquele peso todo. O que é uma boa dica na hora certa, não é?

Após intermináveis discussões de quem fica e de quem vai, a Silvia passou a noite comigo. Uma noite um pouco agitada, pois além do stress que tinha passado, as enfermeiras me medicaram várias vezes, noite adentro.

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